21 de fevereiro de 2013

Quanto vale a sua mão de obra?

  Passeando pelo Dollarama esses dias, me deparei com pulseiras de cristal e lindas florzinhas de polymer clay, algumas até com mix de cores, provavelmente unidas pela técnica do Ikat, algumas pétalas ainda tinham as digitais do artesão, mostrando que não se tratava de um produto feito apenas por máquinas.

                     

  Por razões sociais e ecônomicas, essa pessoa teve que vender o seu talento por centavos, teve que aprender a fazer em grande escala, e sem nenhum processo de criação, o que alguns artesãos demorariam no mínimo o dobro do tempo para realizar, e por um custo bem maior, claro. Será que esse é o preço real dessas peças que se encontra por 1 ou 2 dolares em qualquer lojinha "Made in China"?
  O mercado determina que sim, pois foram peças feitas em grande escala, sem nenhuma exclusividade, por vários artistas diferentes, e a mão de obra e talento vendidos por mixaria.
  Não estou aqui para julgar quem vende seu trabalho por tão pouco, afinal, como citei acima, razões sociais e econômicas levaram as pessoas a venderem seu talento por centavos, (a atual situação chinesa onde existe muita mão de obra e trabalho disputado proporciona essa exploração do empregado, que prefere trabalhar por pouco a ter que ficar mendigando). Na verdade, o que quero com esse texto, é tentar abrir um pouco os olhos das pessoas a apreciarem mais essas peças que muitas vezes demoraram horas para serem feitas, e estão alí, aos montes, empilhadas numa lojinha junto com outros produtos de diferentes categorias e qualidade inferior

Pulseiras revestidas de polymer clay  na técnica Millefiore

Cada flor é moldada numa escala grande e o cano reduzido, cortado e aplicado na pulseira

Colar com pingente de polymer clay e missangas

Indiozinho feito de seed beads, as missanguinhas,  quem conhece
a técnica sabe o quanto demora pra fazer um.

  Mas então, como calcular a nossa mão de obra? É claro que o parametro Chinês não serve de exemplo para os preços praticados por um artesão, pois o produto é exclusivo, e muitos trabalham sozinhos e não oferecem produtos feitos em escala e todos iguaizinhos, é aí que entra a arte, é aí que entra a criatividade e a liberdade de expressão, e não o simples aprender, fazer e montar uma peça em larga produção.
  A sua mão de obra vale o quanto você determinar, o quanto você sabe que vale, as suas horas dedicadas ao resultado final, mas é sempre bom fazer uma pesquisa de mercado e colocar seus produtos num preço mediano e acessível, comparar com outros artesãos o preço praticado, calcular o preço de custo da peça e ver se pra você o preço também é viável ou não, e acima de tudo, por qualidade e acabamento nos seus produtos, que fazem toda a diferença na hora de vender um bom artesanato.

  Enfim, prestem mais atenção nesses produtos baratinhos que escondem uma alma de artista, uma pessoa que não tem seu trabalho devidamente reconhecido, um talento muitas vezes desperdiçado por falta de oportunidades. Eu dei exemplos de peças em polymer clay e missangas, mas a mão de obra barata está escondida em vários produtos pelas prateleiras, quadros pintados a mão, técnicas de macramê em cestos, cintos, bordados, botões artesanais, e tantos outros que até por mim passou despercebido.
  Não podemos mudar a situação, não podemos pagar a eles o merecido valor de seu trabalho, mas pelo menos podemos admirar a arte desses anônimos que enfeitam tão humildemente o nosso dia a dia. 

2 comentários:

  1. Adorei o texto. Bem colocado e verdadeiro. Parabens!

    ResponderExcluir
  2. É verdade o verdadeiro criador nunca enriquece com sua arte. É uma pena.
    Tenha uma ótima semana.

    ResponderExcluir